É bom desejar uma leitura agradável. Nesta categoria, porém, só as fotos de Radilson Gomes, que encontrou na face dos usuários a beleza do SUS e rompeu fronteiras para humanizar a saúde. São dele as imagens na capa e na página ao lado.
A máxima do cliente em primeiro lugar (ilusória no mundo do comércio, mas sempre citada) não se aplica ao leitor da Radis. Para começar, porque não o vemos como cliente, nem a saúde como mercadoria. Mas nesta edição, árida e de narrativas pouco atraentes, nem a sedução para o diálogo lhe sobra. Nossa expectativa é que se entregue voluntariamente à leitura deste mapa de iniquidades e diagnósticos nada otimistas e se junte a nós para colocar em primeiro lugar a maioria ausente, as populações negligenciadas.
Fazemos parte desse contingente, na medida em que somos Hemisfério Sul, tropicais, estamos expostos a um conjunto de doenças para as quais o interesse público é insuficiente e o privado praticamente nulo. É de forma não individualizada, como integrante de uma coletividade e a serviço dela que vemos o nosso leitor.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, são pelo menos 17 as doenças tropicais negligenciadas atualmente no planeta. Elas representaram 12% da incidência de doenças no mundo, entre 1975 e 2004, mas contaram com apenas 1,3% dos novos medicamentos desenvolvidos nesse período. No 18º Congresso Internacional de Medicina Tropical e Malária, especialistas examinaram alternativas de prevenção, diagnóstico, tratamento e cura destas doenças e criticaram o desinteresse do poder público e das empresas privadas em priorizá-las.
No Brasil, malária, tuberculose, dengue, Chagas, hanseníase, esquistossomose, leishmaniose e anemia falciforme — umas mais negligenciadas que outras — são endemias que preocupam pesquisadores e dirigentes do SUS. A Fiocruz assinou acordos com a organização Médicos Sem Fronteiras — para pesquisas e qualificação e treinamento profissional — e com o Ministério da Saúde e a organização Medicamentos para Doenças Negligenciadas na América Latina — para pesquisa e desenvolvimento em novas terapias e diagnósticos.
As doenças negligenciadas não são, porém, a única ameaça no horizonte destes trópicos. Uso abusivo de agrotóxicos, alterações do clima, desigualdade nas relações entre gêneros e com negros e indígenas e o desmonte e privatização dos sistemas públicos de saúde são outros assuntos abordados este mês.
Conceitos como o cuidado, a solidariedade entre os povos e a luta por direitos e vida digna são essenciais para reverter a negligência de governos, mas também a das próprias pessoas diante das causas da miséria e do sofrimento humano. Disto tratam o último livro de Leonardo Boff e a declaração final do Congresso da Associação Latino-Americana de Medicina Social, divulgados no final desta edição.
Boa luta solidária, caro leitor!
Rogério Lannes Rocha
Coordenador do Programa Radis
Estraída da Pagina Ridis
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