Doença rural e urbana, a leishmaniose agora traz preocupações a todos e apresenta o Ceará como 1º lugar em ocorrências
Antes restrita ao ambiente rural, a leishmaniose registra aumento no número de casos e invade as zonas urbanas e adjacências. Os principais causadores dessa migração são o desmatamento e a transferência do reservatório, sendo o cão considerado o maior agente infeccioso.
Otamires Silva, chefe do laboratório do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães da Fiocruz-PE, reforça que o paciente deve buscar ter diagnóstico definitivo o quanto antes, o que auxilia na eficácia do tratamento FOTO: TOM CABRAL
O Ceará encontra-se no topo da lista dos estados com maior prevalência em leishmaniose visceral, também denominada calazar, apresentando 539 casos em 2011. Quanto às ocorrências de leishmaniose tegumentar americana (conhecida também como cutânea), o Estado apresenta um total de 556 registrados.
Norte e Nordeste
Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil possui 90% dos casos da América Latina, tendo 600 mil notificados no período de 1992 a 2011. Entre as regiões de destaque, o Norte e o Nordeste constatam 71% dos registros da doença em igual período. Diante desse quadro, o Programa Multidisciplinar de Leishmaniose, iniciado em 2003 pelo Grupo Sanofi em parceria com o Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães - CpqAM/Fiocruz-PE, colaborou para a redução de 80% da doença em cinco municípios pernambucanos (São Vicente Férrer, Macaparana, Goiana, Água Preta e Timbaúba) e está em fase de expansão para regiões endêmicas do Ceará, começando por Pacoti e Baturité. Na última quinta-feira (17), representantes iniciaram o processo.
Medidas preventivas
O programa visa aos seguintes pilares: melhoria no diagnóstico, capacitação de profissionais de saúde e campanhas de alerta e sensibilização da população. Para garantir o diagnóstico nos municípios e áreas vizinhas, o programa implantará um laboratório da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) no município de Baturité.
Atualmente, os diagnósticos laboratoriais estão concentrados em Fortaleza. Fator que aumenta o tempo para confirmação da doença em função da distância, gerando a demora para iniciar o tratamento. A ação também inclui o acompanhamento do paciente no decorrer do tratamento.
Outra iniciativa é o treinamento de agentes comunitários de saúde, agentes de combate às endemias e de profissionais da área. As crianças, como boas disseminadoras de informação, também receberão orientações nas escolas, auxiliadas por material de apoio para reforçar a conscientização sobre a doença. "A integração das autoridades públicas da região nesse processo garantem incisivamente os efeitos do Programa Multidisciplinar de Leishmaniose", afirma Otamires Silva, chefe do laboratório do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães da Fiocruz (PE).
Como prevenção é indicado o uso de mosquiteiros (de malha fina), repelentes, assim como telas em portas e janelas das residências. Limpar diariamente o entorno da casa, não acumular pedaços de madeira, garrafas, pedras e frutas ou alimentos apodrecidos, além de recolher o lixo em sacos plásticos ou incinerar.
Ao saber alguma ocorrência de contaminação na vizinhança, é preciso solicitar a presença de agentes de saúde para a aplicação de inseticida na área interna e externa do local. É preciso também acompanhar atentamente a saúde do animal doméstico (cachorro). São medidas simples que ajudam a evitar a proliferação do mosquito e da contaminação.
FIQUE POR DENTRO
Alerta sobre os tipos da doença e seus sintomas
Descoberta no ano de 1913 em um paciente do Mato Grosso, a leishmaniose é uma doença tropical negligenciada que atinge cerca de 90 países. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada ano são estimados dois milhões de casos novos no mundo.
A leishmaniose visceral é infecciosa, mas não é contagiosa, além de apresentar manifestações clínicas de outras doenças, como diarreia, febre, aumento da barriga, inchaço no baço e fígado, perda de peso e fraqueza, além de complicações cardíacas e circulatórias, podendo levar a óbito.
Já a leishmaniose tegumentar americana provoca úlceras na pele, geralmente indolores e com bordas elevadas. Acometem braços e pernas, mas quando atingem as mucosas surgem lesões no nariz, na boca e na garganta. Chamado na zona rural de mosquito-palha ou birigui, o inseto possui hábitos vespertinos ou noturnos. O ataque costuma acontecer nesses períodos.
VICKY NÓBREGA
ESPECIAL PARA O VIDA*
*A jornalista viajou a convite do Grupo Sanofi.
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