sábado, 15 de março de 2014

Ritmo brasileiro no combate ao Chagas

Campanha da OMS que busca dar visibilidade à doença tem samba como música-tema
Elisa Batalha
“Ter o Chagas não é o fim de tudo”. Assim começa o samba A vida pode ser melhor, que está sendo difundido mundialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como parte do Projeto de sensibilização e visibilização das pessoas afetadas pela doença de Chagas (Prosevicha). A ideia é utilizar a música como ferramenta de sensibilização nas áreas do mundo onde a doença está presente.

Integram o projeto o Departamento de Controle de Doenças Tropicais Negligenciadas, da OMS, e outras organizações como a Federação Internacional de Associações de Pessoas Afetadas pela Doença de Chagas, o Instituto Catalão de Saúde, o Conselho Nacional de Pesquisa Técnica e Científica da Argentina e o Ambulatório de Doença de Chagas da Universidade Federal de Pernambuco.

O samba foi composto e gravado pela cantora mineira Luna Cohen, que vive há 14 anos em Barcelona. Ao receber o convite para participar do projeto com uma música, Luna considerou o tema delicado e pediu conselho à família. “Conversei com minha mãe, que é pediatra, e com uma prima estudante de Medicina. Venho de uma família de médicos”, conta. A principal recomendação foi ser otimista, e assim Luna escreveu e gravou A vida pode ser melhor, que na sua definição é “uma mensagem de esperança, que trata do tema a partir da alegria”. Para ela, o projeto foi a oportunidade de realizar um antigo desejo: “Sempre pensei em associar arte e saúde”. 

Faz parte da campanha também um vídeo que conta a história real de um paciente de 85 anos infectado pelo parasita da doença. Apesar de esforços no seu combate, a doença de Chagas, transmitida pelo barbeiro infectado com Trypanosoma cruzi, ainda continua vitimando milhões de pessoas (Radis 81 e 85). Estima-se que apenas 10% dos infectados foram diagnosticados. Por isso, educar as pessoas que vivem em áreas com risco de infecção é muito importante, assim como alertar para a necessidade de tratamento integral (biomédico e psicossocial).
A doença de Chagas apresenta-se comumente de forma assintomática. Em 30% dos casos pode afetar o sistema cardiovascular com diferentes graus de gravidade e provocar morte súbita. De acordo com estudos recentes, muitas pessoas com suspeita de estar infectadas evitam confirmar o diagnóstico por medo da doença, tida como letal. “É importante combater o estigma e a exclusão que acompanham a doença e desmistificar ativamente a visão fatalista do Chagas para promover o acesso a tratamento e qualidade de vida ao paciente”, diz o texto oficial do projeto.

Para ajudar a combater a desinformação e o medo que envolvem a doença, Luna conta que, ao compor a música, não fugiu dos ritmos com os quais trabalha normalmente. “É mais samba do que qualquer outra coisa”, explica ela, que não desconhecida o Chagas. No bairro onde a cantora mora, fica um centro especializado em Medicina Tropical, e a cantora já havia participado de atividades artísticas comunitárias ali com o seu grupo de bossa nova e partido alto.

“Em Barcelona vivem muitos imigrantes brasileiros, bolivianos e de outros países onde a doença é endêmica, e os casos de Chagas são comuns”, conta Luna, informando que está prevista a composição de outra música em castelhano. A cantora, que buscou divulgar seu trabalho no Brasil, está feliz com a repercussão do samba. “Uma rádio de Belo Horizonte já tocou”, relata.

Extraído: http://www6.ensp.fiocruz.br/radis/revista-radis

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